domingo, 12 de setembro de 2010

11 DE SETEMBRO - AFINAL A MAIOR AMEÇA ESTÁ NA AMÉRICA

A maior ameaça à segurança dos Estados Unidos não vem das regiões tribais paquistanesas ou de bastiões taliban afegãos. Está dentro de fronteiras, concluiu um estudo publicado ontem. Há quem lhe chame a "americanização dos jihadistas".


"Uma mudança fundamental nos últimos dois anos é o aumento do papel proeminente no planeamento e nas operações que cidadãos e residentes nos Estados Unidos têm desempenhado na liderança da Al-Qaeda e nos grupos que a seguem, e um maior número de americanos que se ligam a esses grupos", lê-se no relatório do National Security Preparedness Group, do Bipartisan Policy Center (que sucedeu à Comissão do 11 de Setembro).

Peter Bergen, um dos responsáveis pelo relatório, antecipou o depoimento que dará ao Congresso americano no dia 15, referindo uma "americanização" da liderança dos grupos afectos à Al-Qaeda como a grande mudança no cenário da segurança interna desde que Barack Obama tomou posse.

O perito aponta para alguns exemplos, como o de Anwar al-Awlaki, que cresceu no Novo México e agora é um elemento importante nas operações da Al-Qaeda na península Arábica (com base no Iémen), e de Adnan Shukrijumah, americano de origem saudita criado entre Brooklyn e a Florida e que agora é director de operações externas da rede de Bin Laden. A lista continua: Omar Hammami, nascido no Alabama e convertido ao islão, é um importante chefe de propaganda e comandante militar do Al-Shabab (grupo que há um ano jurou fidelidade à Al-Qaeda e que controla o Sul da Somália); David Headley, de Chicago, esteve envolvido nos ataques de Bombaim que em 2008 fizeram mais de 160 mortos.

A New America Foundation fez a contagem: em 2009, pelo menos 43 cidadãos americanos ou residentes nos EUA que se juntaram a grupos de militantes sunitas foram acusados de crimes terroristas, nos EUA e no estrangeiro - o número mais alto desde o ataque às Torres Gémeas.

"A Al-Qaeda, os seus grupos afiliados e os que se deixam inspirar pelas suas ideias continuam a representar uma ameaça real, mas não catastrófica", refere Bergen. Será de prever futuros incidentes, mas nada que se assemelhe ao de há nove anos. "Estes grupos poderão conseguir lançar ataques bombistas contra alvos simbólicos que matarão dezenas de pessoas... Esse tipo de ameaça deverá continuar nos próximos anos", explica. "Mas a Al-Qaeda já não constitui uma ameaça à segurança nacional do tipo de poder lançar um ataque em larga escala suficientemente mortal para reorientar a política externa americana, como fez o 11 de Setembro."
Jihadistas "mais fortes"

Isto não quer dizer que a Al-Qaeda tenha saído da lista das prioridades norte-americanas. A organização responsável pelo primeiro ataque estrangeiro em solo norte-americano continua a ser uma grande fonte de inspiração para vários islamistas, embora a sua popularidade esteja em declínio na generalidade do mundo muçulmano.

Para além disso, a Al-Qaeda não é só a Al-Qaeda: há várias pequenas organizações que lhe seguem os passos e as palavras. A rede não estará apenas a dar-lhes apoio técnico, como também as tem posto em contacto para cooperarem nas várias operações, desempenhando um papel de mediador, alertam especialistas como Don Rassler, do Combating Terrorism Center, de West Point (EUA). É isso que acontece com os Taliban Afegãos, os Taliban Paquistaneses, ou o Lashkar-e-Taiba.

"Quando se deram os ataques, havia grande esperança de que a "guerra ao terrorismo", juntamente com alguns esforços de outros governos, poderia neutralizar a rede da Al-Qaeda. Mas a Al-Qaeda e os movimentos afiliados provaram a sua capacidade de sobreviver a quase uma década no topo das prioridades da segurança nacional de praticamente todos os principais países do mundo", continua. "A 11 de Setembro, a sua força estava concentrada no seu santuário no Afeganistão. Agora goza de uma presença significativa não apenas no Afeganistão-Paquistão, mas na Somália, Iémen, Iraque e Mali." Entretanto, houve células de jihadistas erradicadas no Reino Unido, Itália, França, Espanha, Alemanha, Albânia... E há ainda movimentos activos no Cáucaso, Indonésia, Filipinas, Tailândia... "Existe uma presença terrorista em demasiados países para se conseguir nomear", comenta ainda Daveed Gartenstein-Ross. "Vários servem de santuário, onde os terroristas podem receber treino, comunicar e estabelecer redes de comando e controlo para futuras operações."

Ao mesmo tempo, adianta, os alvos que combatem deixaram-se "enfraquecer significativamente pela crise económica, e o Exército americano está esgotado com os seus compromissos no Afeganistão e Iraque". Talvez isso tenha dado novo alento às organizações jihadistas, "que estão em grande azáfama a pensar como podem infligir um golpe mortal à América".

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